Um grupo de teatro de uma escola particular prepara a peça O DESPERTAR DA PRIMAVERA, de Frank Wendekind, para o encerramento do semestre. A tarefa é dada ao professor de teatro, um quarentão que viu todos os seus sonhos de se tornar um grande diretor teatral afogarem no ritual selvagem dos bicos do magistério, correndo de escola em escola, sempre subestimado e sub-remunerado, lutando pela sobrevivência imediata. No elenco, os alunos que, na maioria, optaram pelo teatro para fugirem da Educação Física. Dentre eles, um adolescente viciado em vídeo games, que não desprega os olhos do celular, de onde manda torpedos e se comunica com amigos que nunca viu pessoalmente. Sua atenção dirigida às tarefas de ensaio e discussão do texto é dividida com o celular. Neste aparelho que traz como um apêndice de seu corpo, corre todo o seu mundo, a compreensão de vida , as posições e as suas insustentáveis ideologias.
Flavinho é o seu nome. Um alienado que, fora deste jogo de falar com os fantasmas online de sua vida, o espectador não saberá se ele é bom ou mau. Bruna, também adolescente, é engajada e humanista. Com uma percepção mais aguçada do que passa ao seu redor, tem posições definidas e parece ter uma orientação familiar mais acurada, voltada pra ecologia e pros direitos humanos. Mauricio é um neonazista sem o saber. De classe alta, tem posições preconceituosas que não procura esconder. Odeia o professor de teatro, odeia a peça e os colegas. Só está no grupo para fugir da educação física, e por insistência de sua mãe que decidiu preencher todo o tempo do filho com atividades para dificultar o seu encontro com o grupo que ele começou a frequentar, conhecido pela violência e pelo uso de drogas. Mabel É positiva, inteligente e nada paciente com os absurdos que vê grassando ao seu redor.
Ela é quem traz o humor requintado à peça, quando se contrapõe com tiradas ferinas aos arroubos preconceituosos de Mauricio. Fúvio é religioso. Tem resistência a tudo, mas não sabe o porquê. Não obstante os preceitos de seu pai e de sua religião frequentar a sua boca, ele traz profunda revolta com o que vem lhe sendo imposto, principalmente com o que limita a sua liberdade e dirige a sua vida. Breno é o professor. Consciente, vive cedendo aos absurdos dos projetos e propostas da direção da escola, com relação ao seu trabalho. Elenice a coordenadora pedagógica irrompe os ensaios, levando as mais disparatadas e ridículas sugestões de direção para o espetáculo.
O texto original é lembrado em alguns exercício que os atores fazem, e em alguma discussão que ali se promove. O ensaio, que na verdade tem a duração da peça, caminha, então, em uma explosiva tensão, passando de momentos de diálogos eivados de revolta, indignação e venenosa frustração ao de comédia, marcados por Elenice, que é uma espécie de deus ex maquina às avessas. Tudo está sempre pronto a explodir de ódio ou de riso em O DESPERTAR DA PRIMAVERA. O que aí se mostra são os caminhos tomados pela nossa juventude, da influência de seus pais e do meio. A vida moderna marcada pela violência das informações e a fragilidade dos valores que fluem através do espaço familiar, escolar e, de resto, do cyber espaço.
Ficha técnica
Direção artística: Constantino isidoro
Dramaturgia: Hugo Zorzetti
Assistência de direção: Robson Parente
Produção executiva: Raquel Bittencourt
Elenco: Arilton lopes, Andreydsa borges, Lizandra olavrak, Cleiton oliveira ,Debora Di Sá, Renato Cruz,Kleber Alves, Renata Caetano, Rodrigo Marmore
Músicos:Reginaldo Mesquita, Juliana Junqueira, Washington Micena
Preparação corporal: Luciana Caetano
Concepção de figurinos e cenário: Guto Viscardi
Iluminação: Junior Oliveira
Promoção: Anthropos Companhia de Arte
Apoio institucional: Lei Estadual de Incentivo a Cultura – Lei Goyazes – Governo do Estado de Goiás